SOBRE O DIREITO AO AMOR E AO DESEJO NA VELHICE*

Odenildo Sena
Addie e Louis eram vizinhos de longa data. Moravam a apenas um quarteirão de distância. Ambos era viúvos. Ambos moravam sozinhos. Ambos já tinham passado dos setenta. Mas não tinham maior proximidade.
Deu-se, então, que certo dia Addie resolveu sair de casa e bater na porta de Louis. Queria lhe fazer um convite no mínimo corajoso e inusitado:
“O que você acha da ideia de ir à minha casa de vez em quando para dormir comigo?”
Diante do espanto inicial de Louis, Addie acrescenta:
“Bem, é que nós estamos sozinhos. Já há muito tempo. Há anos. Eu me sinto sozinha. E acho que é possível que você também se sinta. Então fiquei pensando se você gostaria de ir para a minha casa à noite e dormir comigo. E conversar.”
Pronto! Não precisa mais outra motivação para ficar profundamente submerso nas noites de Addie e Louis. E, ao final, voltar à superfície pleno de vida. E convicto de que a aprendizagem pelo amor não tem fronteiras de tempo. Muito menos de idade. E certo também de que é preciso, a todo custo, desmoralizar o moralismo cafona e perverso da sociedade, que insiste em negar a existência do amor e do desejo na velhice.
(…)
Eu já tinha assistido ao filme sobre a história de Addie e Louis há uns dois anos. Eles são interpretados por Jane Fonda e Robert Redford, sob a direção de Ritesh Batra. Tinha me apaixonado pelo filme.
Nesses dias, bateu em meus olhos uma resenha sedutora sobre o livro “Nossas noites”, do americano Kent Haruf, lançado no Brasil em 2017. O título original é “Our souls at night”.
Não resisti. Mal acabei de ler a resenha, trouxe o livro para perto de mim. A princípio, minha vontade foi de devorá-lo numa só sentada. Mas me contive. Meu sentimento de leitor me falou que eu deveria ler sem pressa. Obedeci e passei a saborear cada linha da narrativa. Assim como uma criança que vai saboreando lentamente seu sorvete preferido pelas beiradas, para encompridar sua existência.
Minha confissão. Não me lembro de já ter lido um texto de narrativa tão simples, mas de tão pleno envolvimento. Um texto alinhavado com tanta ternura e tão densamente humano.
Mais uma vez não resisti. Depois de descansar meu olhar sobre a última página do livro, revi outra vez o filme no Netflix e me deixei encantar de novo com Addie e Louis vividos por Jane Fonda e Robert Redford.
(OS)
(*) UM LEMBRETE
Quem dizia era Jorge Luis Borges:
“Se você não gosta de um livro, não o leia. Se não gosta de ler, não o faça. A leitura não é um modismo, mas sim uma forma de felicidade e não se deve obrigar ninguém a ser feliz”.
Então, eu suponho que, se você chegou até aqui, foi porque a leitura da crônica, de alguma forma, lhe fez bem. Ela ainda é inédita em livro. Se achar merecido, deixe seu comentário, ele será da maior importância para mim. Se tiver curiosidade em ler contos e outras crônicas minhas, eis as referências para meus livros mais recentes, disponíveis nas principais as plataformas:
O ÚLTIMO BIRIBÁ – Contos & crônicas para embalar esperanças. Manaus: Editora Valer, 2023.
A FELICIDADE PRECISA DE LOUCURA – Uma sinfonia do meu tempo em 115 crônicas escolhidas. Manaus: Editora Valer, 2022.
APRENDIZ DE ESCRITOR – Sobre livros, leituras & escritos. Manaus: Editora Valer, 2020.
NO TEMPO DE EU MENINO. Manaus: Editora Valer, 2015.
Edições impressas e no formato e-book.
Rádio Encanto do Rio